Ficaste empanada no Laboratólarilolela

Fica aqui o texto de Nuno Markl e a musiquinha do programa de hoje.

Leonel Nunes é um mito vivo que já passou várias vezes pelo LABORATOLARILOLELA – mas nunca é demais deixarmos a arte de Leonel banhar-nos como retemperadora água de boa disposição escorrendo pelos sentidos do ouvinte nas termas da alegria.

O único artista nacional que se faz acompanhar em palco por um garrafão de vinho de cinco litros que lhe serve de combustível criativo sem par, Leonel Nunes está para Quim Barreiros como os Radiohead para os D’ZRT. É um experimentalista da música popular alternativa, que recusa ficar-se pelo mero trocadilho sexual. Não – Leonel Nunes vai mais longe e constrói parábolas e metáforas tão elaboradas que são difíceis de perceber numa primeira audição.

É esse o caso da canção que hoje vos trago. Quando a ouvi pela primeira vez, julguei que se tratava da dramática descrição das desventuras de uma automobilista que conduz sem cuidado e acaba com um pneu furado na berma da estrada… Mas Leonel Nunes é o criador de estereogramas musicais. Tal como os estereogramas normais, aquelas imagens que, depois de olharmos para elas durante alguns minutos, se transformam noutra coisa, também a canção “Ficaste Empanada” não fala propriamente de carros e de condução. Não – a verdade é que, como quem não quer a coisa, “Ficaste Empanada” acaba por ser mais uma canção do nosso ciclo de LABORATOLARILOLELAS sobre prostituição. Sim, esta é mais uma canção que, na boa tradição dos temas que temos mostrado nas últimas semanas de artistas como os Bandalusa ou os Diapasão, grandes trovadores do ofício de mulher da vida.

A abordagem de Leonel é diferente: fazendo uso de uma miríade de sons que vão desde uma guitarra eléctrica que imita um banjo até ao som de um fórmula 1 e falando sobre automóveis e pneus furados, Leonel aborda no fim de contas a arrebatadora saga de uma mulher da noite, da beira da estrada, que engravida após sessão com cliente, tendo de lidar depois com o assunto que, de uma ponta à outra da canção, nunca é referido de forma literal, optando Leonel Nunes por fazer uso do imaginário automobilístico para contar a sua história.

E aqui está a musiquinha!